No âmbito da actividade literária “Escrever e Aprender”, que visa incutir o gosto pela arte de escrever, a professora Maria João Vieira promoveu a produção de textos narrativos e os alunos do 8º ano reagiram muito bem, criando pequenas compilações que estiveram expostas na Biblioteca Escolar, no final do 2º Período. São, seguidamente, apresentados dois textos como exemplo do trabalho realizado. E, já agora, escrevam, escrevam sempre…porque escrever é bom!
A amizade em tons de castanho
O início da época escolar estava quase a chegar. A família Magalhães estava pronta para receber mais um membro na família. Como se tinham associado ao intercâmbio escolar, iriam receber uma rapariga de catorze anos, vinda de Angola. Todos os membros da família estavam bastante entusiasmados por conhecê-la. O Dr. Magalhães e a Sra. Magalhães sempre quiseram usufruir desta experiência, e os seus filhos também. O filho mais velho, que se chamava Eduardo e tinha dezasseis anos, não gostou da ideia de vir uma rapariga, pois ele preferia que fosse um rapaz, independentemente da idade. A filha do meio, que se chamava Beatriz, adorou a ideia, e ainda ficou mais contente quando soube que a rapariga era da sua idade. O filho mais novo, que se chamava Miguel e tinha dez anos, não gostou da ideia, pois gostava de ser o centro das atenções, e com um novo membro da família, tal não aconteceria.
No dia seis de Setembro, os cinco membros da família dirigiram-se ao aeroporto para irem buscar a rapariga, que se chamava Laila. Quando ela chegou, receberam-na de braços abertos, e levaram-na para casa. Apresentaram-lhe o seu novo quarto, e ela adorou tudo. Todos foram bastante simpáticos para com ela, com a excepção do Miguel. Quando ele a viu pela primeira vez, não gostou do seu aspecto. Ele achava que, como ela era negra, poderia ser mal tratada, pois não tinha tanto direito à vida. Ele era, portanto, racista.
Até ao primeiro dia de aulas, Laila fora sempre humilhada por Miguel. Mas quando tal acontecia, os seus pais nunca estavam por perto, pois não gostavam das suas atitudes. Beatriz e Eduardo sempre a defenderam, pois não compreendiam o comportamento do irmão. Seriam ciúmes?
- Não fiques triste, Laila. Já sabes como são as crianças, adoram ser o centro das atenções, e quando não o são, podem ser más. Ele não faz por mal. No fundo, ele gosta de ti! – lamentou-se Beatriz a Laila.
- Não sei, Beatriz. Será que é por eu ser negra? Aqui na zona existe alguém negro?
- Não, por acaso no nosso bairro não existe ninguém negro. Nem na nossa escola!
- Deve ser por isso que ele me trata assim. Não está habituado a ver pessoas como eu! Sinto-me tão mal!
- Não é caso para tanto! Vai tudo correr bem!
Beatriz sabia que tal não iria acontecer. Mesmo que Miguel parasse de humilhar Laila, ela iria ser sempre humilhada na escola por ser diferente. A sua escola era unicamente constituída por pessoas de etnia branca, e quando alguém diferente aparecia, era sempre posta de parte e mal tratada. Por isso era rápida a sua estadia na escola. Esse era o maior medo de Beatriz. Ela afeiçoara-se muito a Laila, e gostara muito dela, por isso não queria que ela sofresse.
O primeiro dia de aulas chegou. Estavam todos entusiasmados e contentes por rever os amigos. Quando chegaram à escola, a maior parte dos alunos olhou de lado para Laila. Ela sentiu-se mal e Beatriz notou a sua angústia e constrangimento, por isso, enquanto andavam pelos corredores, deu-lhe a mão, para ela se sentir segura e confiante. Quando Beatriz apresentou Laila às suas amigas, estas recusaram-na e deixaram de falar com ela, pois não queriam ser vistas com uma rapariga negra. Beatriz sentiu-se muito mal, e pensou em deixar de conviver com Laila, para conseguir estar com as suas amigas de novo. Mas rapidamente tirou essa ideia da sua cabeça, pois tentou colocar-se na posição de Laila, e se assim estivesse, não gostaria que a sua única amiga a abandonasse. Eduardo também fora criticado por falar com uma rapariga negra, mas este não conseguiu ser tão forte como Beatriz e, durante o período de aulas, não falava com Laila e juntava-se com os seus amigos para gozarem com ela. Em casa ele era bem diferente. Já o Miguel comportou-se como sempre, e até pior, pois tinha o apoio dos amigos. Laila sentiu-se muito triste e rejeitada. Os seus intervalos eram passados dentro da casa de banho, a chorar. Beatriz não aguentava vê-la assim e, passado um mês de maus tratos constantes, físicos e verbais, decidiu agir.
No dia vinte de Outubro, durante um intervalo escolar, um grupo de rapazes voltou a agredir verbalmente Laila. Beatriz dirigiu-se a eles e defendeu a amiga com todas as suas forças. Os seus olhos transbordavam fúria e indignação, quando eles se foram embora, intimidados. Laila ficou praticamente atónica de admiração e surpresa. A partir daquele dia, nunca mais ninguém ousou atacar Laila, pois sabiam que Beatriz estaria lá para a defender. Beatriz começou por incentivar os seus colegas de turma a conviver com Laila. Disse-lhes que ela era muito divertida e que sabia muitas anedotas. Aos poucos, começaram a conviver mais com ela, e Laila começou a ter cada vez mais amigos.
O tempo foi passando e no segundo período, Laila já era a rapariga mais popular da sua escola. Beatriz sentiu-se muito bem e orgulhosa do que tinha feito. Laila fora um exemplo para várias pessoas de etnias diferentes, por isso, a sua força e coragem incentivou a ida de pessoas de etnia negra e de origem asiática para a escola.
No último dia de aulas, toda a escola estava triste por Laila se ir embora para Angola. E ela também, pois iria ter saudades de todas as pessoas, principalmente de Beatriz. Mas ela nunca iria ser esquecida, pois deixou uma marca na escola. Ela fez com que todos os alunos deixassem de ser racistas e deixassem de julgar as pessoas pelo seu aspecto, pois existe muita coisa para além do aspecto físico de uma pessoa. Existem sentimentos, objectivos e amizade para dar. Mas Miguel foi o único que não mudou. Apenas deixou de mal tratar Laila pois não tinha o apoio dos seus amigos.
No dia da viagem de volta para Angola, Laila foi surpreendida com uma festa surpresa feita pelos seus amigos. Ela ficou contentíssima, e depois da festa foram todos levá-la ao aeroporto. Muitas lágrimas foram derramadas, e muita saudade levou o avião. Mas algo Leila deixou em Portugal: amizade, em todas as cores. Neste caso, em tons de castanho.
Margarida Anacleto 8.ºE n.º18
O Mundo Literário
Um certo dia, um grupo de adolescentes decidiu ir acampar, para saírem um pouco de casa e também para se divertirem.
Já feitas as malas, apanharam o comboio, dois autocarros, andaram uns quantos quilómetros e encontraram-se numa floresta extensa e densa. Montaram a tenda, limparam o campo à volta da tenda e no fim de toda esta actividade, acenderam uma fogueira para cozinharem, alimentarem-se e aquecerem-se.
Durante a noite, um dos jovens acordou e ouviu uns arbustos ao longe a mexerem-se. Passado um bocado, ouviu outro barulho, mas ainda mais perto que o anterior.
Ele seguidamente precipitou-se e foi chamar uma amiga. Ao acordá-la, chamou-a para ir lá fora ver o que era. Os dois ouviram outro barulho mesmo quase junto deles. De repente, apareceu um coelho vindo dos arbustos. Os rapazes suspiraram de alívio e dirigiram-se para dentro da tenda.
De manhã seguinte, o grupo de exploradores adolescentes desmontou o campo onde acamparam e começaram a caminhar pela floresta até chegar ao sopé da montanha.
Durante a caminhada, um deles caiu num buraco e, ao cair começou a gritar. Os seus colegas decidiram, em conjunto, ir até lá para o trazer de volta. Saltaram. Tal como tinha acontecido com o colega, escorregaram e foram ter a um mundo incrível, chamado o mundo literário.
A primeira coisa que viram foi árvores. Mas não são umas árvores banais! Estas árvores eram feitas de papel, com poemas magníficos nas suas folhas. O chão era feito de palavras de amor tão calorosas que derreteriam chocolate...
Era um mundo para lá da imaginação deles! Então, sem mais demoras, começaram a busca do amigo desaparecido. Eles, ao andar, foram ficando deslumbrados com as paisagens deste novo mundo e cada vez com mais expectativa em ver novas coisas. Já cansados, eles pararam para descansar e para se alimentar, mas esqueceram-se das mochilas no mundo real e não tinham nada consigo. Logo começaram a imaginar comida em abundância.
De repente, apareceu uma mesa cheia de pratos com iguarias que cheiravam deliciosamente bem e o grupo de amigos dirigiu-se para a mesa. Sentaram-se e começaram a comer. Depois de se satisfazerem, retomaram a viagem em busca do amigo. Caminharam, caminharam, caminharam até que chegaram ao sopé da montanha e olharam para cima para determinar a altura da montanha.
Um dos amigos, que era um bocado preguiçoso, começou a imaginar um elevador que iria direito ao topo da montanha. Então, como anteriormente, apareceu ao lado do grupo de amigos uma cabina com um elevador lá dentro. Eles olharam e entraram e, numa questão de segundos, chegaram ao topo da montanha.
Ao chegarem, viram que existia uma passagem para dentro da montanha e eles, na esperança de encontrar o amigo, entraram.
Na misteriosa passagem, foram descendo uma escadaria enorme até chegar a uma sala gigantesca, com colunas em forma de letras, o chão era composto por lápis de carvão e, ao fundo daquela sala, estava um altar magnífico com um grande livro lá exposto iluminado por luzes que emitiam poemas.
O grupo de amigos viu também o amigo desmaiado ao pé do tal livro. Eles começaram a andar, movidos pela curiosidade e, chegaram ao pé do livro.
Um dos amigos deu um passo à frente para ler o livro que dizia:
“Todo o ser que neste mundo entrar, terá o dom de todos os seus desejos se realizarem se os imaginar!”
Ao ouvir isto, um dos amigos começou a lembrar-se daquelas ocasiões na floresta, da mesa cheia de comida, do elevador ao pé da montanha e do achado do amigo ao pé do livro e, com isto, percebeu a história toda.
A pessoa que tinha lido deu um passo atrás e acorda o amigo que estava desmaiado. Ao acordar o seu colega, este imaginou logo que poderia levar o maravilhoso livro para o mundo dele.
Pegou no livro mas, o chão começou a tremer, as colunas a sucumbirem e uma colega deles disse-lhe para pôr o livro no sítio. Ao pô-lo, são levados, outra vez, para o mundo deles, que a amiga tinha imaginado.
Do nada, apareceu uma voz a agradecer o gesto que fizeram ao não levar o livro. A partir desse dia, esse grupo de amigos pôde sempre voltar ao mundo literário e fazer acontecer coisas brilhantes.
Bruno Pinheiro, Nº7, 8ºE