A mulher que prendeu a chuva e outras histórias é um livro escrito pela autora Teolinda Gersão, em 2007, e uma das propostas do Plano Nacional de Leitura. Numa aula dedicada à escrita, como antecipação da leitura do conto que dá título ao livro, a Catarina Moita do 9.º C escreveu assim:
"Sara era uma mulher encantada com a vida fantástica que tinha. Ela vivia numa cidade onde a doce e meiga chuva deliciava as ruas selvagens. Jéssica, a sua amável filha, perdia-se a olhar para a cascata de vida que descia do céu e vinha, inocentemente, abraçar as suas botas. Sara e Jéssica moravam sozinhas, numa vivenda enorme, onde tinham plantado um lindo jardim cheio de rosas, tulipas, e uma pequena laranjeira, que brilhava e fazia crescer a mais açucarada fruta. Mas havia um cantinho em particular que a menina adorava, era um lugar onde o chão se moldava numa pequena cova mágica.
Todos os dias, à mesma hora, Sara dava a mesma resposta à sua filha, pois esta perguntava se podia vestir a sua gabardina azul e as suas galochas verdes para ir brincar com cada gotinha que caísse do céu e mergulhasse na sua poça especial.
Sara sentia-se muito feliz sempre que Jéssica contemplava, através do vidro da janela, a chuva caindo na humilde terra e transformando-se em pura emoção. Porém, esta alegria parecia evaporar-se a cada minuto que voava.
Com o crescimento do desgosto da mulher, a sua adorada filha não podia desviar o seu olhar inofensivo e questionou a mãe sobre o que se passava. Sara, com a escuridão na sua voz, informou a filha que acabara de ficar desempregada e que ambas se tinham de mudar para um pequeno apartamento no lado oposto do país. Aí iria estar muito sol e calor mas, provavelmente, a mãe iria arranjar um novo trabalho. Estas simples palavras pareciam espetar-se como facas pontiagudas no pensamento de Jéssica. Não era chuva, nem quaisquer tipo de gotas mágicas, mas sim lágrimas. Lágrimas secas de vida, transbordando desilusão, que inundavam os grandes olhos azuis de chuva de Jéssica e percorriam a sua face como pegadas que viveriam nela durante séculos.
A filha de Sara não conseguia acreditar no que acabara de ouvir e, perante tal desespero, a sua mãe teve uma ideia que raiou no seu sorriso como um cristal. Sara foi buscar um frasco vazio à cozinha e colocou-o fora da janela. Ao recolhê-lo, este estava cheio de chuva, de mil e uma gotinhas, aventuras e felicidade. A mãe disse à sua filha entristecida para não se preocupar com o facto de não poder ver mais chover a toda a hora, e de brincar no quintal. Sara prometeu-lhe que iria levar aquele frasco com elas para a nova casa e que, sempre que ambas olhassem para ele, iriam recordar-se de como eram felizes ali, das brincadeiras infinitas e de toda a magia que a chuva carregava consigo. Agora, aquele simples frasco de vidro podia ser igualado aos maravilhosos vidros das janelas, aque iria transformar um tempo tão puro, tão límpido em alegria continuada.
Os olhos de Jéssica brilharam de novo, como nunca antes tinham brilhado. O seu espírito infantil gritou mais alto do que tudo e ela sentiu que, graças ao frasco que continha a sua vida, nunca, mas nunca iria ter saudades da sua antiga casa, da sua amiga chuva, nem do seu lago mágico."